Skank está de volta com a “Turnê de Despedida”
Já disse um crítico que a
importância de uma banda se mede pela quantidade e qualidade de músicas
“indispensáveis” que acabaram ficando de fora do repertório de seu show. Com
quase 30 anos de contribuições para as festas, os romances e para a vida dos
brasileiros, o Skank já ouviu muito que “faltou esta” e “faltou
aquela”.
Pois na “Turnê da Despedida”, que celebra a história da banda
antes de sua separação por tempo indeterminado, o desafio é encaixar num mesmo
roteiro tudo o que esses caras já deixaram gravado no coração do público desde
o comecinho dos anos 1990. E é nessas horas retrospectivas que a gente vê que
foi muita coisa –
mesmo para generosas duas horas (ou mais!) de show. Depois do período de
pandemia, o Skank está de volta aos palcos, com todos os cuidados necessários.
As apresentações que seriam em junho de 2020 acontecerão dias 11 e 12 de março de 2022, sexta e sábado, com ingressos
já esgotados. E no dia 13 de março, domingo, a banda
apresenta um show extra, no Espaço das Américas.
Foram nove álbuns de estúdio, alguns deles presença
obrigatória em listas de melhores de todos os tempos do pop-rock nacional e que
somam mais de 5 milhões de exemplares vendidos; três ao vivo que registraram
para a posteridade o nível de ataque e a catarse de seus shows em diferentes
fases da carreira; e uma coleção de sucessos que não encontra paralelo nas
últimas três décadas no país. Foram cerca de 40 hit singles, 29 deles entre as
100 mais tocadas do ano no Brasil (muitas vezes defendendo sozinhas o pop-rock
num mar de sertanejo universitário), 25 em trilhas de novela, dois mega-hits
que marcaram fases distintas e igualmente bem sucedidas do grupo (“Garota
Nacional” em 1996 e “Vou deixar” em 2004) e um sem-número de favoritas do fãs
que vez por outra aparecem de surpresa nos shows. “Algo parecido”, o single
inédito lançado em 2018, passou dos 30 milhões de plays em pouco mais de um
ano. E ainda temos a nova “Simplesmente”, delicada balada folk lançada
especialmente para acompanhar a Turnê da Despedida. Que belíssimo problema será montar
o repertório dos shows…
Até onde podemos
enxergar, esta será a última oportunidade de assistir a Samuel Rosa (guitarra e
voz), Lelo Zanetti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti
(bateria) tocando seus clássicos, juntos, num mesmo palco. Em novembro de 2019,
a banda anunciou a separação motivada pelos desejos individuais de experimentar
novos caminhos – musicais e pessoais. Sem brigas, sem decadência, sem barracos
públicos e sem descartar a possibilidade de reuniões futuras. Pontuais?
Comemorativas? Definitivas? Só o tempo dirá. Por hora, é melhor aproveitar a Turnê da Despedida como se não
houvesse amanhã.
A separação do Skank é uma forma de colocar um ponto final
(ou um ponto-e-vírgula) numa carreira iniciada na curva entre a moda do rock
brasileiro dos anos 1980 e uma nova década que apontava para a brasilidade,
para o ritmo e para as misturas. Inicialmente uma simpática banda de vinda de
Minas Gerais tocando música de inspiração jamaicana, rapidamente o Skank tanto
apontou caminhos para toda uma nova geração (de Chico Science, Raimundos, Pato
Fu, Jota Quest, Mundo Livre SA, O Rappa e tantos outros) como ganhou
musculatura e tamanho de mercado. Isso ali por 1996, quando chegou no incrível
feito de ter, no mesmo período de doze meses, dois álbuns diferentes com mais
de um milhão de exemplares vendidos – Calango e O Samba Poconé.
Foram tempos de turnês internacionais, hits no
mercado latino e a confiança para arriscar a mudança que viria nos anos
seguintes: canções mais melódicas, com mais violões e guitarras e climas
psicodélicos. Em meio a momentos tão diferentes, algumas características
continuavam: os sucessos na boca do público, as canções na vida das pessoas, os
grandes shows pra lavar a alma e a coerência com sua própria história, de olhar
para frente e encarar os desafios.
É essa coerência que levou
Samuel, Lelo, Henrique e Haroldo a dependurar as chuteiras por hora e buscar
desafios em outros territórios. A Turnê de Despedida é a versão da banda para
aqueles jogos em que os craques do futebol juntam os amigos, num clima incrível
de festa e gratidão. Os craques estarão no palco, os amigos somos todos nós que
estivemos juntos a eles por tanto tempo. E vai ser um jogo de goleadas, isso
todo mundo sabe.
Por WSCOM
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